dezembro 28, 2012

Retrospectiva




O alvorecer do Ano Novo traz dúvidas e reflexões. É a hora do balanço geral. Por isso vamos relembrar alguns conceitos e reflexões emitidos neste blog durante o ano de 2012.

Se pouco conhecimento nos torna tolos e arrogantes, os frutos da sabedoria, ao contrário, nos fazem cada vez mais humildes. Nesta linha, Benjamin Franklin preconizava: “ser humilde com os superiores é  obrigação; com os colegas é cortesia; com os inferiores, é nobreza”.

Devemos sempre priorizar as coisas realmente necessárias. Precisamos aprender a viver plenamente, pois como afirmou David Thoreau, “só amanhece o dia para o qual estamos despertos”.

No caminho da paz  e do progresso, fé e ideal caminham juntos. Pois a fé “é um pássaro que pousa no alto da folhagem e canta na hora em que Deus escuta.” (Joaquim Nabuco).

Se o fracasso não é definitivo, o sucesso nunca é impossível. A ele se chega através do trabalho árduo e da efetiva perseverança. Muitas vezes o medo e a insegurança nos impedem de alcançar nossos objetivos. Aqui, podemos recorrer à inspiração do gênio de Charles Chaplin: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios, por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”.

Hoje vivemos em uma sociedade de riscos, onde tudo é efêmero e transitório. Onde prevalece a amizade virtual em detrimento da conexão humana, permanente e duradoura. Seguindo as palavras sábias de Schopenhauer, nossa sociedade “é tão indigente quanto indulgente”. Carregamos muito peso inútil, largamos pelo caminho objetos que poderiam ser preciosos, enquanto recolhemos inutilidades. Somos prisioneiros de nossos pensamentos. Grilhões que não podem ser removidos, mas podem ser substituídos pela liberdade de escolha de nosso próprio caminho.

E na estrada da vida, o caminho mais difícil a ser percorrido é o que conduz a nós mesmos.  Durante todo o tempo procuramos tempo para não ter tempo. Quando desaparece, a esperança faz inútil a vida, pois o homem deixa de sonhar. 

As realizações alcançadas no ano que termina serão sementes, cuja colheita ocorrerá pelo sucesso no ano que se aproxima. Ele é um livro em branco, cujas páginas serão preenchidas com a história de nossas vidas.

(Imagem: Flickr, do álbum de Katarina 2353)

dezembro 22, 2012

O que vale a pena...





Vale a pena sonhar sempre com a utopia, mesmo fazendo coro com as sábias palavras do escritor uruguaio Eduardo Galeano, que compara utopias a horizontes para os quais caminhamos: quanto mais próximos pensamos estar, mais se afastam de nós.

Vale a pena nossa caminhada solitária através das veredas tortuosas da vida em busca de uma inacessível verdade. Vale a pena carregar o fardo da lenha profana, que irá alimentar o fogo sagrado. Vale a pena reconhecer que “não tem direito de chamar  a Deus de meu Pai quem não consegue chamar aos homens meus irmãos” (Chico Xavier).

Vale a pena admitir que todo sucesso precisa ser conquistado, mas a honestidade, basta  que não seja perdida. Vale a pena juntar os fragmentos de nossos sofrimentos para compor o mosaico de nossa felicidade.

Vale a pena seguir a palavra do mestre Mário Quintana: “Enquanto uns saem para caçar borboletas, prefiro cuidar do jardim para que elas venham”. Vale a pena concordar com o Patativa do Assaré, para quem “é melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”.

Vale a pena refletir com Teodoro Wanke: “Há uma idade em que colhemos flores. Há outra em que estamos na flor da idade. Por ultimo, simplesmente a idade nos colhe, como se uma flor, embora murcha, fôssemos”. 

Pois, afinal, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. (Fernando Pessoa)


(Imagem: Flickr, do álbum de kenny barker)

dezembro 15, 2012

Inquilinos de Deus



Não é necessário esforço intelectual para se chegar à triste constatação de que o ser humano desconhece a si próprio. De modo equivocado, julga a si e a seu semelhante de forma comparativa, incidindo em erro grosseiro ao considerar-se sempre superior ou inferior a alguém. Produz, assim, seu próprio sofrimento – seja como sujeito ativo, sob condição de soberba, ganância e egocentrismo; seja passivamente, na de humilhação e mediocridade.

Na esteira desse argumento, encontramos o sábio ensinamento de William Hazlitt, para quem “o homem é o único animal que ri e chora, porque se impressiona com a diferença que há entre o que é o que deveria ser”. Julgamo-nos acima do que somos, estimando-nos menos do que realmente valemos.

Palavras duras e verdadeiras de Plínio: “Nada tão miserável, nem tão soberbo como o homem”. Mais do que nunca, precisamos nos autolibertar e autoconhecer. O paradoxo da criação humana contém enigmas insondáveis. Somos criados como escultura divina e única, feita de matéria-prima ímpar – a alma.

O corpo é a forma ou o acabamento da obra. Algumas esculturas são grandes, outras pequenas. Sua beleza é avaliada apenas pelo seu aspecto estético, pois o valor real só é conhecido pelo Criador. Angústias, dores e infortúnios se comparam a processos de limpeza e polimento dessas esculturas – uma verdadeira restauração da  alma.

Não existe diferença na fragilidade humana. Mendigo ou príncipe, o ser humano possui virtudes e defeitos. Nada temos e nada somos, e tudo nos é cedido por  prazo determinado. A existência nos cobra pesado ônus. Na verdade, não passamos de humildes peregrinos em efêmera caminhada em busca dos umbrais da eternidade. 

Somos, sim , os “inquilinos de Deus”.

(Imagem: Flickr, do álbum de DHamp1)

dezembro 08, 2012

A vida é emoção




Impregnados de esmero poético e verdade filosófica, os versos de Milton Nascimento apregoam que “por tanto amor / por tanta emoção / a vida me fez assim / doce ou atroz / manso ou feroz / eu caçador de mim”.

Sabemos que o universo humano  é sacudido pelas emoções. Revoluções políticas, religiosas, no mundo das artes, encontros e desencontros existenciais – estão todos assinalados indelevelmente pela força do sentir. Vivemos entre as margens da agonia e do êxtase.

Sentimentos de alegria e tristeza, raiva e medo, amor e desprezo, constituem herança comum à Humanidade. Isto  nos torna iguais na diversidade, pois ninguém escapa aos sentimentos e às emoções. Os sentimentos tanto podem ser nossos melhores aliados na vida, quanto nossos piores inimigos. Tudo dependerá da forma como vamos encarar nossos inevitáveis sofrimentos.

Alguns acreditam que o sofrimento é decorrência de nossos vícios e nossa própria culpa – um carma divino. Outros no entanto o vêem como restauração da alma, imprescindível à autolibertação. De modo irônico, o escritor britânico Oscar Wilde afirmava que “a vantagem das emoções é o fato de elas nos desencaminharem”.

Um dos principais papéis da emoção é conectar nossa natureza animal ao mundo à nossa volta. É ela que nos coloca diante da verdade das coisas. Se a tristeza não tivesse um sentido biológico, nós jamais derramaríamos uma lágrima. A emoção da perda e do sofrimento, sempre abre caminhos a novas possibilidades.

Eis porque o Diadorim de Guimarães Rosa nos diz: “Sofre, sofre depressa, que é para as alegrias novas poderem vir logo”.

“Se chorei ou se sorri” canta Roberto Carlos, “o importante é que emoções eu vivi”.

(Imagem: Flickr, do álbum de Josh Sommers)

dezembro 01, 2012

Imitação da vida




A busca pela felicidade é sempre ato incondicional e solitário. Individual. Embora se afirme que ninguém é feliz sozinho, a felicidade está sempre presente em nós e ninguém pode ser feliz  pelo outro. Apesar de nos sentirmos felizes por amigos e parentes, este é um sentimento exclusivo.

Mas infelizmente nossa sociedade está recorrendo a uma felicidade artificial. Existe uma busca coletiva do prazer e bem-estar através das drogas, do culto ao corpo, do exibicionismo e da negação aos mais elementares princípios da ética e da moral.

Imitação da vida, o que caracteriza a felicidade artificial é seu poder de se opor à realidade baseando-se na ilusão dos fatos, numa espécie de miragem de um fictício paraíso. Diria até que vivemos a era das aparências, onde as pessoas, se não são bem-sucedidas, ricas, famosas, poderosas ou gloriosas, fazem o possível para aparentar tudo isso.

Nossa era acredita que a felicidade exige relação estreita entre culto físico, drogas legais e ilegais, alimentos não naturais, cultura material e massificação da mídia. Hoje já não somos verdadeiramente indivíduos. Cada pessoa é célula em uma rede de relacionamento.

O escritor americano  Jennifer Michael Hecht, autor de O Mito da Felicidade, afirma que felicidade “é sentir-se bem”. Drogas, corpos, comemoração e dinheiro são técnicas materiais que nos proporcionam isso. 

Estamos aprisionados em nossos desejos, contrariamente ao que apregoava Epicuro, para quem a liberdade não seria alcançada com sua realização, e sim com sua negação. Para Marco Aurélio, podemos passar uma noite em um palácio ou no chão de uma cabana, e sermos felizes da mesma forma. “É preciso descobrir que instrumento toca seu coração, pois só assim você entoará a melodia da felicidade eterna”.

(Imagem: Flickr, do álbum de Sion Fullana's)

novembro 24, 2012

O senso comum




Conhecimento adquirido através da experiência e culto às tradições e costumes, o senso comum é sempre um aprendizado pautado pela falta de reflexão, uma espécie de maria-vai-com-as-outras. O antropólogo americano Clifford Geertz definiu o senso comum “um emaranhado de práticas recebidas, crenças aceitas, julgamentos habituais e emoções que não foram ensinadas”.

É através do senso comum que sabemos o que vestir, quando trabalhar, como nos comportarmos na rua ou em uma festa, como manter relações sociais harmoniosas. São regras ocultas a que somos levados a obedecer.

Em contraste com o conhecimento teórico, o senso comum não reflete sobre o mundo. Em vez disso, tenta lidar com ele simplesmente como ele é, ou como pensamos que ele seja. E varia de acordo com a época e a ocasião. No início do século passado, era comum assistir a um jogo de futebol vestindo trajes que incluiam terno, gravata, chapéu e outros assessórios hoje totalmente desconhecidos. Como, por exemplo, uma caixinha de rapé.

Senso comum não se confunde com bom senso. Enquanto este é sempre norteado por princípios que buscam o bem estar e a harmonia social, o senso comum pode estar mais próximo de um modismo desconfortante e até preconceituoso. Pois como asseverou Oscar Wilde, “a maioria dos homens morre de uma espécie de senso comum rasteiro, e descobre, quando já é demasiado tarde, que as únicas coisas de que nunca nos arrependemos são as nossas tolices”.

Negação do óbvio, pois na maioria da vezes nos engana, o senso comum tantas vezes ocultou e oculta o bom senso que o teme. 

E que, apesar disso, sempre existiu.

(Imagem: Flickr, do álbum de Theblueheartbeat)